Compreender a questão agrária sob o modo capitalista de produção sempre foi tarefa difícil e complicada. Não porque muitos autores não a tenham praticamente esgotada, mas porque os estudos mais trazemdiscordâncias do que convergência. Por isso, esta temática cria atritos entre os conservadores e os progressistas,entre os socialistas e os comunistas, e entre todos eles e os anarquistas. Não há possibilidade nenhuma deconsenso ou mesmo de aproximações. Sempre haverá pressupostos que se interporão abrindo espaço para apolêmica e discussões. Não há como encerrá-la no mundo político, ideológico ou teórico, pois sempre haverá umnovo texto para reavivá-la, ou mesmo, o devir da história para (re) ou propô-la.
Assim, este livro nasce deste contexto do embate teórico, político e ideológico que tem movido osestudos sobre a questão agrária. Nasce de uma convicção sobre o papel e o lugar do campesinato na sociedadecapitalista contemporânea. Não deriva de imposições apriorísticas da vontade individual do intelectual, mas dodiálogo travado na caminhada das salas de aula, das pesquisas de campo, das discussões com os novospersonagens da cena política do país, os camponeses em seus espaços de lutas, de estudos e reflexões. Por isso eleé um livro em transformação. Um conjunto de conhecimentos e saberes em transformação. Contém minhasprimeiras reflexões, mas também, contém as últimas.
Ele nasceu da fusão de meu primeiro livro publicado pela Editora Ática “Modo Capitalista de Produção eAgricultura”, Série Princípios nº 89, 1986, e três conjuntos de textos que escrevi referentes à renda da terra,publicados na revista Orientação do antigo Instituto de Geografia – USP; sobre a reforma agrária inéditos, sendoque apenas um havia sido publicado como verbete no “Dicionário da Terra” da Editora Civilização Brasileira em2005; e outro conjunto de texto que publiquei sobre a questão agrária brasileira, os movimentos sociais de lutapela terra e a reforma agrária no Brasil. Este último conjunto de textos foi publicado em periódicos, apresentadose congressos, encontros e fóruns acadêmicos e políticos, e dois deles já circulam na Web, como enfrentamentopolítico à farsa dos números da reforma agrária do MDA/INCRA do governo Lula.
Dessa forma, espero que os leitores encontrem nele velhas e novas questões, mas, sobretudo, novosdesafios teóricos e políticos para continuar a caminhada. Caminhada de quem apreendeu a caminhar junto, parajunto, apreender a caminhar. Pretende ser instrumento de debate teórico e político simultaneamente. Sem medode correr riscos. Riscos no mundo acadêmico, pois a parte dele publicada como livro pela Ática, sempre foichamado de “livrinho”. O diminutivo para muitos vinha carregado de carinho e apreço, mas para outros carregavao fel amargo de quem não tem coragem de enfrentar a crítica. Como vocês podem ver, trata-se agora, do“livrinho” que cresceu, e deu frutos. Assim, ele retorna acompanhado dos “filhotes” que ajudou a parir.`
Mas, ele traz mais um desafio, romper a barreira imposta pelo “lucro a qualquer custo” das editorascomerciais e universitárias. Não vou negar, que minha experiência com elas não tenha sido contraditória, pois háde “tudo” também neste setor da produção editorial capitalista. Alegrias, frustrações, decepções não faltaramnestes já mais de 20 anos de intenso convívio.
Por isso, a decisão de caminhar na direção de destinar o conhecimento aos interessados, sem a mediaçãoda exploração capitalista do mercado editorial. Ele vai para a Web, levando o recado e a tentativa de tornar oconhecimento acessível sem a mediação da “compra monetária do livro”.
A esperança nasceu da convicção de que a abordagem e o ensino do capitalismo precisam conter tambéma sua superação. Espero que ele represente o início de minha libertação das editoras comerciais. Por isso, esperoapenas que aqueles que dele fizerem uso lembrem-se apenas de citar a fonte, porque ele também nasceu de muitasoutras fontes citadas.
Acredito mesmo, que ele já é parte da luta pela difusão ampla, geral e irrestrita do conhecimento livre egratuito.
Por fim, queria que ele representasse uma homenagem singela e carinhosa à Dom Tomás Balduíno,semeador e símbolo de esperança e renovação permanente na luta pela terra no Brasil.
São Paulo, no final do ano de 2007.
Ariovaldo Umbelino de Oliveira
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